segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Um salto diario na vida Severina...

A Vida e a Morte - Klimt.
A Meditação sobre o Tiête

Água do meu Tietê,
Onde me queres levar?
— Rio que entras pela terra
E que me afastas do mar...

É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oleosa.
É noite e tudo é noite. Uma ronda de sombras,
Soturnas sombras, enchem de noite tão vasta
O peito do rio, que é como se a noite fosse água,
Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto. De repente
O óleo das águas recolhe em cheio luzes trêmulas,
É um susto. E num momento o rio
Esplende em luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas,
Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam
Agora, arranha-céus valentes donde saltam
Os bichos blau e os punidores gatos verdes,
Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas,
Luzes e glória. É a cidade... É a emaranhada forma
Humana corrupta da vida que muge e se aplaude.
E se aclama e se falsifica e se esconde. E deslumbra.
Mas é um momento só. Logo o rio escurece de novo,
Está negro. As águas oleosas e pesadas se aplacam
Num gemido. Flor. Tristeza que timbra um caminho de morte.
É noite. E tudo é noite. E o meu coração devastado
É um rumor de germes insalubres pela noite insone e humana.
(Lira Paulistana, Mario de Andrade)
Suicido-me...
E aos que lerem, não morram de susto acreditando ser uma carta de aviso de morte, pois o foco é a Morte Diaria, essa morte que mata a cada minuto de vida morbida!
O foco mesmo é essa necessidade de um suicidio às avessas, de um pulo num abismo de vida!
Vida, vida... eu entendo é nada!
Esse negocio que é grande e que se vai com a facilidade mais simples de ser explicada, pois o Além é sempre explicação... que mané Além? Mas que o quê? Quê?
Doses homeopaticas de café, chocolate, cigarros, cervejas. Doses semanais de anti- inflamatorios de realizaçao profissional. Doses esporadicas de morfina de paixões. Oculos escuros durante a noite, para não enxergar... Mas Morte Diaria é irremediavel...
Um vivo que deseja morrer é o tipo humano mais decidido e corajoso de que ja ouvi falar.
E um morto que deseja viver? Faz o que? Faz o que? Faz-me rir!
Essa Morte que me espreita e que me leva diariamente... que me acerta com cacetadas de realidade cruamente viva, ela vive mais que a propria Vida!
Ei, Além, você que pretensiosamente se coloca como explicação, vê se humildemente me mostra um caminho para um salto diario de Vida nessa Vida Severina!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

E como se diz o contrario de Solidão?


cueillete - Michel Rauscher


Ser gente é uma coisa estranha! Não sei se é ser gente simplesmente ou se é o "querer ser gente" que nos faz assim sonhadores, verdadeiros arqueologos à procura cuidadosa de vestigios de humanidade, fosseis de verdade, migalhas de companhia...
Que grande invenção foi essa de SER ser humano? Não! Isso é uma engenhoca sem o menor planejamento, e o pior, com a exclusiva utilidade de fazer crescer teias de aranha.
Dentre todos os mecanismos falidos dessa geringonça, acho que aquele que funciona tentando enviar ilusões para a Solidão é o mais problematico de todos. O ser humano é sozinho, e passa a vida inteira ludibriando a Solidão, acreditando que isso é condição para uns pobres coitados...
Não funciona, não funciona... qual o contrario de Solidão? Companhia? Muito pouco! Companhia é muito pouco para a devastadora Solidão... seria bonito assumirmos nossa condição, mas essa consciência plena é muito além do que a maquina do corpo pode aguentar.
E é bem assim que a gente funciona: remando num barco sozinho, se contentando com a beleza das pétalas das flores que caem por perto e sonhando com as que ainda não se aproximaram.