domingo, 21 de dezembro de 2008

Carta enviada à Ninguém

J.R.M,

Escrevo para você essa carta e publico-a para que fique claro que apesar da completa falta de palavras dirigidas à tua pessoa apos a tua morte, de alguma forma, eu quis dizê-las, mesmo depois de tanto tempo, também!
Escrevo para ninguém essa carta, ela não tem remetente-leitor-alguém ja que você estaria impossibilitado de lê-la, ainda que estivesse vivo e fosse digno, pois não poderia entender sequer uma palavra das minhas... talvez por mais motivos que os obvios.
Escrevo para você e envio para o nada a minha carta que poderia ir para Papai Noel, se você não me tivesse levado a desacreditar em tudo, inclusive em Papai Noel e mais...
Sinto-me velha e enrugada tendo vivido, quem sabe, um terço da minha expectativa estatistica de vida! Sinto-me murcha e sei que o meu coração tem artérias entupidas... sinto-me meio viva com um terço estatistico de vida pulsando em minhas veias... doente, talvez, mas certamente, e piormente, hipocondriaca!
Eu ja vi estrelas cadentes e pensei em sonhos, ja dormi noites bem dormidas, ja senti a brisa do mar me alegrar... hoje o céu do meu quintal nunca deixa à mostra qualquer estrela, durmo cedo e acordo cansada e o mar me da nauseas... e sabe, cara formiguinha operaria, você tem grande participação nisso!
Você esta de parabéns! Essa é a mensagem que envio novamente pra você, mas por motivo bem diferente! Você esta de parabéns por saber permanecer, saber abrir feridas incuraveis e saber também jogar um salzinho nelas pra temperar e sair com estilo!
Você foi, não duvide, um belo sonho! E você mesmo me acordou e varreu naquela manhã o meu gosto de sonhar, transformando o meu sonho em pesadelo...
Eu sei, é tarde para desabafos! Não existe mais conexão para desaforos e baixarias pois quando você jogou suas pedras em mim, quebrou-me em mil pedaços... eu não tive chances de reagir e, acredite, não foi por mera frustração por qualquer coisa que seja, simplesmente à minha carcaça foi dada o status de "perda total".
Eu também quis te matar, te ferir, mas você foi mais forte! Que ironia! Logo você, a aparente fragilidade em pessoa destruindo aparentes fortalezas...
Neste fim de ano, vou dedicar minha velhice à você, juntamente com um sincero desejo de que você viva em paz e cada vez mais longe de mim. Que meu Papai Noel ressurja por alguns segundos e carregue meu pesadelo-você, o mesmo que ja foi sonho-de-amor, em seu treno sem passagem de volta.
Não desejo à você um Feliz Natal, desejo Felizes Aniversarios... para que você possa se lembrar a cada ano o que um desejo assim pode suscitar!
E finalmente, me esforço para abrir minhas mãos, ainda que lentamente, por enorme fadiga de mantê-las serradas desejando quebrar você... sopro as migalhas e a enorme poeira da minha vida sem parar de espirrar e impossibilitada de respirar tranquilamente, pois sei que quando a faxina acabar vou dormir um bom sono limpo... e por fim, tento perdoar toda dor que me foi causada, ainda que nenhum pedido de perdão tenha sido proferido, pois sei que essa nossa luta vai além dessa vida e não quero leva-la tão pesada para as proximas...
Nada além!
Do seu P.C.B
22.12.08

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sou aeroporto e porto...

Eu queria tanto lhe dizer
Da minha solidão, da minha solidez
Do tempo que esperei por minha vez,
Da nuvem que passou e não choveu...


Minhas mãos estão no ar
Como aeroporto pra você aterrissar
Também sou porto, se quiseres ancorar...
Sou ar, sou terra e sou mar...


Eu tenho a mão e você tem a luva,
Eu sou a montanha e você é a chuva
Que escorre e some no final da curva
E beija o rio, pra abraçar o mar


É por isso que a montanha tem ciúmes
Quando o vento leva a chuva pra dançar
Muitas vezes tudo acaba em tempestade
Raios gritam sobre a tarde,
Tardes dormem ao luar,
Anoitece a minha espera,
Amanheço a te esperar...

(A montanha e a chuva, Orlando Moraes)