segunda-feira, 26 de março de 2012

vivendo e aprendendo...

Vivendo e aprendendo, diz o ditado...
E parece que dita ordem sem progresso, porque para viver de verdade só a prática do desaprendizado é válida.
Só a desordem pode nos fazer querer progredir... "Hoje eu aprendi que..." de nada serve no dia em que se tem que viver de novo uma coisa parecida em uma situação nova. Renovar o coração: desaprender a viver. Viver de novo, o novo sempre novo e não aprendido. Como diria Manél "Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios".
Desaprendendo e vivendo: hoje grita o meu coração aprendiz e esse é o meu ditado.

quinta-feira, 8 de março de 2012

A mulher que dormia no metrô

Hoje pela manhã entrei no metrô e procurei um lugar vago onde eu não precisasse sentar com as costas viradas para a direção que o trem anda. Encontrei um cantinho só. Tinha uma mulher meio "largada" dormindo ali, meio esparramada nas duas cadeiras e não me atrevi a sentar ao lado, sentei no banco da frente.
Durante a viagem muitas pessoas se encaminharam para sentar ali e repetiram a minha ação, sendo que alguns homens aproveitaram para rir da condição da mulher, fazendo piadas do tipo: senta aí, vai na promoção! A mulher dormia profundamente.
Comecei a ver que ela tinha cicatrizes nas pernas e também no rosto, cortes profundos marcando a sua pele e talvez a sua alma, totalmente escondida pelas suas pálpebras naquele momento.
Não pude deixar de pensar no que acontecera minutos antes. Peguei um ônibus para chegar à estação e o cobrador me sorriu e disse algumas palavras que não entendi. Perguntei: oi? E ele respondeu: Parabéns, pelo seu dia! Então pensei "Mulher" e agradeci me dando conta que não tinha lembrado ainda que hoje era 8 de Março.
Alguns metros adiante, numa das principais avenidas da cidade, um outdoor enorme do shopping Tacaruna parabenizava as mulheres a partir de uma homenagem a três grandes nomes femininos. Sorri pensando nas nossas conquistas tão silenciadas por anos e anos, escondidas, postas para debaixo do tapete e pensei no quanto nosso mundo está mudando - para melhor.
Passados 15 minutos eu estava no metrô, olhando para aquela mulher sem nome que dormia vulnerável. Uma mulher com brincos bonitos e as unhas dos pés descalços e sujos pintadas de cor de rosa, denunciando sua condição vaidosamente feminina. Eu usava um sapato com lacinhos.
Chegamos à "Alto do Céu" e nem ali pude ver qualquer expressão que me dissesse um pouco do que sonhava aquela mulher em sono tão profundo, certamente induzido por substâncias químicas. Até ali a mulher continuava sendo a piada do dia e nem ali haveria alguém de lembra-la que hoje é um dia de homenagem, desde o fatídico 8 de Março de 1857.
Nem no sonho mais profundo haveria qualquer pessoa de lembrar de flores e perfumes ao lançar um olhar para aquela mulher que simplesmente dormia, nem mesmo as floriculturas ou as perfumarias.
Cheguei à minha estação e o trem seguiu neste 8 de Março, sem cheiros agradáveis, em direção à Camaragibe.