quarta-feira, 25 de agosto de 2010

reflexões acadêmicas II

mmestranda, menstruada e monstruada: pára de chorar, seu olho safado!
nhém nhém nhém, eu quero minha casa dos meus pais
eu quero não jantar macarrão! eu quero um trabalho decente quando isso tudo acabar!
eu quero dormir tranquila depois de um dia de estudos gripada...
páaaaaaaaaaaaaara de chorar, seu olhinho de merda!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

papinho com Roland

Hoje, depois de muito tempo tentando conversar e ter sido sempre mal interpretada, para não dizer muitas vezes rechaçada de papos com pessoas que considerei (não quero enumerar os critérios)aptas a entenderem de bom grado (não digo concordar)o que ou do que eu estava querendo falar, tive um rasgo de alegria!

Já que não tive aula, pra não perder a viagem ao campus, fui passear na biblioteca, o meu verdadeiro museu de grandes novidades empoeiradas, para ver o que andava por ali pelas prateleiras. Escolhi uns exemplares de interesse acadêmico e outros nem tanto. No meio dos "nem tanto" está Roland Barthes e escolhi o pequenino pra passar a tarde "papeando" em vez de estudar: Aula.

Gozado! A aula que não tive à tarde se transformou na "Aula" de Barthes. Trata-se da sua aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 1977, na qual ele fala, num texto que faz pensar na maestria de uma mulher rendeira tecendo seus fios, sobre linguagem e poder, sobre poder e linguagem.

Eu teria muitas coisas a comentar sobre a minha conversa com o Monsieur Barthes, mas devo me ater, pelo menos por hoje, a falar - com ecos barthesianos - o que eu sempre quero dizer naqueles papos em que sou incompreendida e a gritar a minha alegria de me sentir pretensiosamente compreendida por Barthes.

Também quero aproveitar o ensejo da movimentação "politiqueira" dessa época do ano pra tentar explicar, mais uma vez, para alguns, por que eu desconfio de militâncias, de discursos inflamados e apaixonados contra o Poder ou em prol de grupos minoritários: "chamo discurso de poder todo discurso que engendra o erro e, por conseguinte, a culpabilidade daquele que o recebe".

Então, é isso! Eu pergunto pra que diabos eu vou falar contra o Poder, esse Senhor das Mazelas do Mundo? "O poder está presente nos mais finos mecanismos do intercâmbio social: não somente no Estado, nas classes, nos grupos, mas ainda nas modas, nas opiniões correntes, nos espetáculos, nos jogos, nos esportes, nas informações, nas relações familiares e privadas, e até mesmo nos impulsos libertadores que tentam contestá-lo".

Lutar contra O Poder é, pra mim, ingenuidade. O poder é pra sempre, é "simetricamente perpétuo no tempo histórico". Poder é coisa que se luta, a meu ver, com armas bem diferentes das que venho vendo ser empunhadas por aí. Não se trata de dar poder a quem não tem por meio de bandeiras e discursos sem dar acesso igualitário ao entendimento de como funciona/ do que é linguagem, "esse objeto em que se inscreve o poder, desde toda a eternidade humana". E aqui não estou falando de "bem falar" ou "falar correto", só para anular o risco de assim ser entendida.

No filme Ensaio sobre a cegueira, baseado no livro de Saramago, a população inteira de uma cidade é acometida de uma espécie de síndrome de cegueira sem causa aparente que se alastra como um vírus. É uma síndrome bastante parecida com aquela que eu vejo nesse blá blá blá que chamamos de visões e posições políticas. É uma síndrome que eu diagnosticaria paradoxalmente como síndrome da cegueira de visões políticas. Não que eu considere a inexistência de visões políticas, mas entendo o nosso fazer "política" como uma repetição ingênua, para não usar alienada, de discursos de poder autorizados, cada um pro seu lado. É bem aí na ingenuidade que reside o câncer.

Então é disso que eu falo quando discordo de marcações de diferença entre classes sociais, grupos étnicos, grupos políticos, grupos de gênero e o que mais tiver, para tratar assuntos de poder, para dar ou tirar poder. É disso que falo quando falo dessa necessidade de inserção ingênua em um discurso "correto" relativo ao grupo social do qual fazemos ou queremos fazer parte, seja para tratar da escolha do presidente, seja para criticar a demanda da produção musical, a frequência em um tipo de bar x ou y...

Devo ressaltar, na tentativa de não ser mais uma vez rechaçada do papo, que não estou dizendo aqui que acho que o grupo x,y,z mereça ou não, tenha ou não direito a um nível x,y,z de poder; apenas penso que se o assunto é poder, vamos falar de poder, e não mascarar os que o desejam como coitadinhos ou mauzinhos, que sejam, com belos discursos vazios cheios de ingenuidade.

Lupas, óculos e coragem pra usar a lingua! Eis o discurso desta estudante da lingua/gem que vos escreve! (Entendem aqui esse mecanismo para mostrar meu poder? ;)) Obrigada Barthes!