quinta-feira, 12 de maio de 2011

Amor, meus caros, é bola de cristal:
não dá pra sair fazendo embaixadinhas por aí.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Separando o joio do trigo

Vejo com maus olhos, bem diferente dos "olhos atentos de quem há décadas observa os movimentos de cultura em nosso país" de Alceu Valença, a fala de Chico César sobre a decisão do governo do Estado em não financiar a contratação de bandas de forró de plástico para o São João de Campina Grande.

Não vou mencionar aqui o meu gosto ou minhas preferências porque acho que a questão a ser levantada perde consistência ao entrar por esse caminho. Não é o que EU gostaria de ver no São João da minha cidade que está em questão, mas uma balela de defensoria de uma suposta cultura de raiz às custas da estigmatização de uma parcela bastante significativa da população.

Vou apenas colocar os meus olhos maus sobre o discurso de Chico César e de Alceu Valença, que se manifestou em defesa do amigo, que utiliza expressões como "forró plástico" posto indiretamente em oposição ao "forró vivo", "cultura natural", "grupamento social homogêneo","agentes culturais alienígenas" etc, etc.

O fato é que eu acho que de boas intenções como as descritas por Alceu e Chico o inferno tá cheio. Falam de resgatar uma tradição, mas pra isso precisam usar o Santo Nome da Cultura, esse bem a ser cuidado à sete chaves, como forma de redenção de uns pobres coitados compelidos a ouvir "lixo" imposto pelo mercado capitalista malvado. Falam de valorização de conceitos, de cultura natural, esse Bem Sagrado que aqueles que não tiveram acesso devem ter para que o mundo seja mais bonito com toda a homogeneidade que lhe deve ser concedida.

O resultado muito visível de atutides-em-palavras (já que a atitude aqui é o discurso e isso vale como ação, porque é pura ação de poder simbólico em representações ideológicas) como essas não é e nunca será a democratização
de "bens culturais" considerados como bons por estarem associados a uma elite culta e letrada. O resultado é e sempre será, porque o jogo político de permanância de poder através de discursos mascarados de redenção não tem fim, a marcação de grupos de "cultura inferior", mais ignorantes porque menos escolarizados e portanto incapazes de ter gosto.

No mais do mesmo,fica tudo como está, cada um no seu lugar, porque os grupos são tidos como homogêneos, como bem prega o Seu Alceu. Fica essa misturinha de água e óleo, afinal, a maneira mais fácil de dominar um povo – e a mais sórdida também – NÃO é despi-lo de sua cultura natural, a maneira mais fácil de dominar um povo é dizer a esse povo que ele não tem cultura, que ele é alienado, que é de plástico, descartável e facilmente levado pelos interesses alheios.