sábado, 8 de dezembro de 2012

Ecos


Na bem verdade
eu já sentia
os ecos de oco

O oco ecoando
quase em silêncio
não me deixou
te deixar ver
a minha poesia.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cabum!


Explodir para dentro. Há alguns dias a sensação que paira pelo corpo com sinais de sedentarismo é um fluxo intenso de pensamentos aparentemente desconexos: uma profunda bagunça mental que não mostra o seu fio condutor para uma tentativa de desenlinhamento e organização. Sedentária, mas também... com tanto calor que faz lá fora! Em seguida pensava nas causas e consequências do estado atual e só lhe vinha uma palavra à boca: sede! Estava sedenta, e isso era, definitivamente, causa e consequência do seu sedentarismo, com explicações bem mais filosóficas do que a simples semelhança gráfica entre as palavras.

Partiu para o banho, a água lhe acalmaria as ânsias da cabeça confusa, acreditando com tamanha esperança nos planos que faria em baixo do chuveiro, que seriam capazes de lhe empurrar para uma atividade física e, como resultado, para uma atividade mental mais controlada, ou, se isso fosse pedir muito, que fosse então menos angustiada.

Afrouxar o juízo, porque sentia como se ele fosse um emaranhado de nós apertados e isso lhe causava uma dorzinha de cabeça chata, sobretudo no cair das tardes. Talvez o sentimento de “Pronto, finalmente, acabou o dia!” seguido de “Bosta! Amanhã não tenho nada de extraordinário para fazer!” lhe desse à alma o direito de proferir um suspiro com ares de quem acha – com certeza – que sua vida está uma merda.

“Uma cerveja gelada com as boas amigas”, dizia a si mesma que aquele seria o remédio para matar aquela sede que esfolava de secura a sua garganta e torrava seus miolos, tamanha desidratação! As boas amigas que queria estavam todas distantes demais para um gole certeiro e então o pensamento de “merda” continuava martelando, não saía sequer para dar uma voltinha na esquina.

Talvez a cerveja gelada não fosse ainda o bastante, embora parecesse um excelente paliativo para aquele momento de tantas dúvidas, se é que podiam assim ser chamadas, porque parecia tudo nebuloso demais para ser chamado de dúvida, de pergunta, de questionamento.

Ria de si mesma, achando-se existencialista demais para pouco caso, existencialista demais para a simplicidade de vida que insistia em querer costurar no seu corpo. Queria ser leve, não aquela babaquice existencial de crer que o ser humano existe mais que qualquer outra coisa – um grão de areia que seja – na natureza. E depois concluía, ainda caçoando de tanto pensamento, que só de pensar aquilo tudo já era mais existencialista do que sua vaidade permitiria deixá-la ser.

Não tinha perguntas, não podia, pois, ter respostas. Não sabia onde estava, mas conhecia um pouco seu mal: sede. Uma sede de uma coisa sem nome, de um líquido que não sabia onde encontrar. Uma sede de tudo, infinita sede de paixão. Isso tudo não tem ponto, isso se expande, sempre... “Droga! Quanto existencialismo barato! Se ao menos pudesse tirar algum proveito dessa babaquice!”. Queria mesmo era explodir para dentro...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012


Entre a cabeça e o coração e os sentidos, as palavras

 

A terceira condição para conhecer-entender é saber que o sentimento só sente o que as palavras deixam sentir, mas que a onipotência das todo-poderosas palavras está sempre a serviço do esforço humano de sentir o que ainda não foi sentido, de dar a conhecer o desconhecido, de explicar o inexplicado, de permanentemente ordenar e reordenar o caos. E aí, então, escutar quem já tentou traduzir em palavras (ou em poesia, que é a mesma coisa) o mesmo empasse: no caso, Rita Lee, a tua mais completa tradução.

 

...

 

Depois de libertar o coração e dar-lhe tempo para sentir a impressão, é preciso amar, ou odiar (são o mesmo sentimento, em outra personificação ou momento histórico).

 

Quando te encarei frente a frente não vi o meu rosto

Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto

É que Narciso acha feio o que não é espelho

E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho

Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo, afasto o que não conheço

E que vem de outro sonho feliz de cidade

Aprende depressa a chamar-te de realidade

Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso.

 

Amamos aquilo com que nos identificamos, o outro sonho feliz de cidade de onde viemos e que construiu nossa percepção para o conceito e o sentimento de cidade, e odiamos aquilo que se recusa à nossa identificação, a outra cidade que não reflete essa imagem, exigindo que empreendamos o árduo e doloroso processo de reconstruir nossa percepção para dar conta de um novo conceito e de um novo sentimento. De narciso a mutante, de criança a adulto, de ignorante a sábio, os olhos (a percepção, o entendimento, o sentimento, a sabedoria) percorrem o caminho que leva do espelho (pequeno mundo familiar, paroquial, as primeiras pequenas certezas a respeito da vida) à realidade (a descoberta da complexidade do mundo lá fora e a descoberta da capacidade de reorganizar o mundo aqui dentro). E se o ódio é o avesso do amor, e o amor, o avesso do ódio, quem é capaz de resistir a um olhar que não reflete essa primeira cara infantil, ignorante e narcísica, acaba aprendendo que, pra dar conta da riqueza e complexidade do mundo, esses dois sentimentos não são suficientes: é preciso procurar o avesso de cada um desses avessos.
(Paulo Coimbra Guedes)

terça-feira, 31 de julho de 2012

agridoce

todo gosto bem bom começa com agridoce
toma a boca
invade o paladar
sem agredir
sem enjoar

eis a mais ardente novidade
misturada com uma doce lembrança

é tão bom que, em seguida, dá vontade
de tentar um doce, um salgado, um amargo, um azedo...
voltar pro agridoce
e começar tudo de novo.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

terça-feira, 10 de julho de 2012

o tempo que dura o tempo...

tempo é a palavra do dia... no sentido que vem, no sentido que vai, no sentido que foi, no sentido que era, no sentido que é, no sentido do que será, no sentido do que passou e passou, do que passou e não passou, do que passou e ficou, do que ficou sem passar, do que sem passar já era, do que era e já foi, do que foi sem ter sido, do sido sem ser, do que virá sem ser, do ser sem vir, do vir sem ser... e de todas as outras combinações possíveis do tempo... e tudo contigo quero viver, tempo!

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Dos jogos que se jogam

Existem no mundo inúmeros diferentes jogos.
E existem os seus jogares esporádicos, vorazes e até os viciados.
Eu gosto de jogar xadrez
pacientemente
preto no branco
cara a cara
longamente
planejando
 em silêncio
de sedução
Por ai se jogam muito jogos de estratégia ou puramente lúdicos
Pife pafe
buraco
poker
E se blefa
e se rouba

Não sei jogar cartas
Meu jogo é de xadrez
Mas nunca encontro quem saiba
quem queira
ou um oponente leal.

segunda-feira, 26 de março de 2012

vivendo e aprendendo...

Vivendo e aprendendo, diz o ditado...
E parece que dita ordem sem progresso, porque para viver de verdade só a prática do desaprendizado é válida.
Só a desordem pode nos fazer querer progredir... "Hoje eu aprendi que..." de nada serve no dia em que se tem que viver de novo uma coisa parecida em uma situação nova. Renovar o coração: desaprender a viver. Viver de novo, o novo sempre novo e não aprendido. Como diria Manél "Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios".
Desaprendendo e vivendo: hoje grita o meu coração aprendiz e esse é o meu ditado.

quinta-feira, 8 de março de 2012

A mulher que dormia no metrô

Hoje pela manhã entrei no metrô e procurei um lugar vago onde eu não precisasse sentar com as costas viradas para a direção que o trem anda. Encontrei um cantinho só. Tinha uma mulher meio "largada" dormindo ali, meio esparramada nas duas cadeiras e não me atrevi a sentar ao lado, sentei no banco da frente.
Durante a viagem muitas pessoas se encaminharam para sentar ali e repetiram a minha ação, sendo que alguns homens aproveitaram para rir da condição da mulher, fazendo piadas do tipo: senta aí, vai na promoção! A mulher dormia profundamente.
Comecei a ver que ela tinha cicatrizes nas pernas e também no rosto, cortes profundos marcando a sua pele e talvez a sua alma, totalmente escondida pelas suas pálpebras naquele momento.
Não pude deixar de pensar no que acontecera minutos antes. Peguei um ônibus para chegar à estação e o cobrador me sorriu e disse algumas palavras que não entendi. Perguntei: oi? E ele respondeu: Parabéns, pelo seu dia! Então pensei "Mulher" e agradeci me dando conta que não tinha lembrado ainda que hoje era 8 de Março.
Alguns metros adiante, numa das principais avenidas da cidade, um outdoor enorme do shopping Tacaruna parabenizava as mulheres a partir de uma homenagem a três grandes nomes femininos. Sorri pensando nas nossas conquistas tão silenciadas por anos e anos, escondidas, postas para debaixo do tapete e pensei no quanto nosso mundo está mudando - para melhor.
Passados 15 minutos eu estava no metrô, olhando para aquela mulher sem nome que dormia vulnerável. Uma mulher com brincos bonitos e as unhas dos pés descalços e sujos pintadas de cor de rosa, denunciando sua condição vaidosamente feminina. Eu usava um sapato com lacinhos.
Chegamos à "Alto do Céu" e nem ali pude ver qualquer expressão que me dissesse um pouco do que sonhava aquela mulher em sono tão profundo, certamente induzido por substâncias químicas. Até ali a mulher continuava sendo a piada do dia e nem ali haveria alguém de lembra-la que hoje é um dia de homenagem, desde o fatídico 8 de Março de 1857.
Nem no sonho mais profundo haveria qualquer pessoa de lembrar de flores e perfumes ao lançar um olhar para aquela mulher que simplesmente dormia, nem mesmo as floriculturas ou as perfumarias.
Cheguei à minha estação e o trem seguiu neste 8 de Março, sem cheiros agradáveis, em direção à Camaragibe.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Postagem para recordar...

Não há nada de bem "acontecimento" que me motive a pensar nessas coisas ultimamente...
Na verdade, se fosse para viver de evidências, o contrário se mostraria muito mais exato neste momento, mas a vida só acontece do jeito que a gente resolve enxergá-la, seja isso a melhor maneira de se esquivar ou seja isso a melhor maneira se olhar para si mesmo.
É! Até parece que vou cantar daqui a pouco uma canção de Narciso (e advirto que talvez seja bem isso), porque na realidade essa é uma canção dentro de mim que ecoa da maneira que eu mais quero recordar...
Ao contrário de uma grande paixão amorosa ou de um choromingo de solidão eu tenho me apaixonado pela minha convivência comigo... por descobrir a cada momento que posso me reinventar, que me posso ser nova, que posso encantar e posso me encantar por essa coisa vida que não sei nomear.
Ultimamente me pus a pensar: bom, sabe Arnaldo Antunes? Eu não teria o menor medo, o menor receio ou muito menos tietagem em conversar horas com ele em um banco de avião... dizendo simplesmente: "oi Arnaldo, eu sei teu nome porque tu es famoso, mas é claro que tu não me conhece... me chamo Thaís e na verdade não te conheço... tais afim de conversar um pedaço e ver se a gente tem alguma ideia pra trocar?" Se a resposta fosse não, eu ia tomar normalmente meu dramin e dormir, e se fosse sim, talvez eu me tornasse amiga de Arnaldo Antunes.
O que eu quero dizer com isso? Não tenho sentido medo de me mostrar assim bem Thaís do jeito que sou e estou pra ninguém e não tenho sentido medo de conhecer quem quer se seja por achar que essa pessoa pode ser mais ou menos que eu...
... Acho que estou em um ano dourado e isso merece ser registrado neste banco de memórias apaixonadas....