quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Cabum!


Explodir para dentro. Há alguns dias a sensação que paira pelo corpo com sinais de sedentarismo é um fluxo intenso de pensamentos aparentemente desconexos: uma profunda bagunça mental que não mostra o seu fio condutor para uma tentativa de desenlinhamento e organização. Sedentária, mas também... com tanto calor que faz lá fora! Em seguida pensava nas causas e consequências do estado atual e só lhe vinha uma palavra à boca: sede! Estava sedenta, e isso era, definitivamente, causa e consequência do seu sedentarismo, com explicações bem mais filosóficas do que a simples semelhança gráfica entre as palavras.

Partiu para o banho, a água lhe acalmaria as ânsias da cabeça confusa, acreditando com tamanha esperança nos planos que faria em baixo do chuveiro, que seriam capazes de lhe empurrar para uma atividade física e, como resultado, para uma atividade mental mais controlada, ou, se isso fosse pedir muito, que fosse então menos angustiada.

Afrouxar o juízo, porque sentia como se ele fosse um emaranhado de nós apertados e isso lhe causava uma dorzinha de cabeça chata, sobretudo no cair das tardes. Talvez o sentimento de “Pronto, finalmente, acabou o dia!” seguido de “Bosta! Amanhã não tenho nada de extraordinário para fazer!” lhe desse à alma o direito de proferir um suspiro com ares de quem acha – com certeza – que sua vida está uma merda.

“Uma cerveja gelada com as boas amigas”, dizia a si mesma que aquele seria o remédio para matar aquela sede que esfolava de secura a sua garganta e torrava seus miolos, tamanha desidratação! As boas amigas que queria estavam todas distantes demais para um gole certeiro e então o pensamento de “merda” continuava martelando, não saía sequer para dar uma voltinha na esquina.

Talvez a cerveja gelada não fosse ainda o bastante, embora parecesse um excelente paliativo para aquele momento de tantas dúvidas, se é que podiam assim ser chamadas, porque parecia tudo nebuloso demais para ser chamado de dúvida, de pergunta, de questionamento.

Ria de si mesma, achando-se existencialista demais para pouco caso, existencialista demais para a simplicidade de vida que insistia em querer costurar no seu corpo. Queria ser leve, não aquela babaquice existencial de crer que o ser humano existe mais que qualquer outra coisa – um grão de areia que seja – na natureza. E depois concluía, ainda caçoando de tanto pensamento, que só de pensar aquilo tudo já era mais existencialista do que sua vaidade permitiria deixá-la ser.

Não tinha perguntas, não podia, pois, ter respostas. Não sabia onde estava, mas conhecia um pouco seu mal: sede. Uma sede de uma coisa sem nome, de um líquido que não sabia onde encontrar. Uma sede de tudo, infinita sede de paixão. Isso tudo não tem ponto, isso se expande, sempre... “Droga! Quanto existencialismo barato! Se ao menos pudesse tirar algum proveito dessa babaquice!”. Queria mesmo era explodir para dentro...

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