Hoje pela manhã entrei no metrô e procurei um lugar vago onde eu não precisasse sentar com as costas viradas para a direção que o trem anda. Encontrei um cantinho só. Tinha uma mulher meio "largada" dormindo ali, meio esparramada nas duas cadeiras e não me atrevi a sentar ao lado, sentei no banco da frente.
Durante a viagem muitas pessoas se encaminharam para sentar ali e repetiram a minha ação, sendo que alguns homens aproveitaram para rir da condição da mulher, fazendo piadas do tipo: senta aí, vai na promoção! A mulher dormia profundamente.
Comecei a ver que ela tinha cicatrizes nas pernas e também no rosto, cortes profundos marcando a sua pele e talvez a sua alma, totalmente escondida pelas suas pálpebras naquele momento.
Não pude deixar de pensar no que acontecera minutos antes. Peguei um ônibus para chegar à estação e o cobrador me sorriu e disse algumas palavras que não entendi. Perguntei: oi? E ele respondeu: Parabéns, pelo seu dia! Então pensei "Mulher" e agradeci me dando conta que não tinha lembrado ainda que hoje era 8 de Março.
Alguns metros adiante, numa das principais avenidas da cidade, um outdoor enorme do shopping Tacaruna parabenizava as mulheres a partir de uma homenagem a três grandes nomes femininos. Sorri pensando nas nossas conquistas tão silenciadas por anos e anos, escondidas, postas para debaixo do tapete e pensei no quanto nosso mundo está mudando - para melhor.
Passados 15 minutos eu estava no metrô, olhando para aquela mulher sem nome que dormia vulnerável. Uma mulher com brincos bonitos e as unhas dos pés descalços e sujos pintadas de cor de rosa, denunciando sua condição vaidosamente feminina. Eu usava um sapato com lacinhos.
Chegamos à "Alto do Céu" e nem ali pude ver qualquer expressão que me dissesse um pouco do que sonhava aquela mulher em sono tão profundo, certamente induzido por substâncias químicas. Até ali a mulher continuava sendo a piada do dia e nem ali haveria alguém de lembra-la que hoje é um dia de homenagem, desde o fatídico 8 de Março de 1857.
Nem no sonho mais profundo haveria qualquer pessoa de lembrar de flores e perfumes ao lançar um olhar para aquela mulher que simplesmente dormia, nem mesmo as floriculturas ou as perfumarias.
Cheguei à minha estação e o trem seguiu neste 8 de Março, sem cheiros agradáveis, em direção à Camaragibe.
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